15 de novembro de 2019

2º Prémio - 2019

Já desde os tempos antigos
Do Geraldo Sem Pavor
Os chaparros são amigos
Da sestinha, meu amor

Alentejano valente
Para a açorda e o gaspacho
Se toca a rapar o tacho
Ninguém lhe passa para a frente.
Madruga com aguardente,
E come as migas com migos.
Com altos não vai aos figos
E em fezes não se mete,
Foge do diabo a sete,
Já desde os tempos antigos.

À sombra de uma azinheira
Como ovelha no acarro
Bate a sorna um chaparro
Nem torreira, nem soleira.
E sonha que a Terra inteira
É tudo Paz e Amor.
Pica o moscardo. A dor,
Ao acordar, de repente,
Solta o velho combatente
Do Geraldo Sem Pavor

É crente em Deus e nos Santos
- E noutras coisas também -
Mas os maganos são tantos
Que não os conhece bem.
Gosta de mangar mas tem
Medo dos raios, dos perigos,
Mete trancas nos postigos.
Mas, quando toca à matança,
Junta a malta para a festança:
- Os chaparros são amigos.

A pachorra alentejana
É boa para namorar:
A coisa pode demorar
Uma hora, uma semana...
Pau de azinho não abana,
Aguenta seja o que for.
E, no tempo do calor,
Quando a cigarra canta:
- Está na hora - traz a manta -
Da sestinha, meu amor!



Manuel João do Maio Calado
Borba

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