9 de outubro de 2007

LISTA DOS PREMIADOS DA EDIÇÃO DE 2007

1º PRÉMIO

Alexandre Gamela
(Figueira da Foz)


O meu coração pertence a estranhos
Desenrolando o Fio de Ariadne pela Biblioteca de Babel


O segundo post; o Novelo na mão esquerda e uma tesoura na direita;
“Não é a primeira vez que custa mais. Abrir a porta é fácil, o difícil é dar o passo simultaneamente derradeiro e primordial…” Delete, delete, delete. Este é o drama do segundo post. Foi simples encontrar o nome e apresentar a ideia do blogue, mas dedicarmo-nos à apresentação regular de ideias é mais complicado, especialmente quando éramos daqueles miúdos que não gostavam de fazer os trabalhos de casa. Então, porquê expressarmo-nos por escrito quando temos uma pequena noção do que sofre a gramática às nossas mãos, porquê a necessidade de um púlpito quando normalmente não somos muito conversadores em público, porquê partilhar com o mundo o que há poucos anos atrás era guardado num livrinho com chave e escondido debaixo da cama, normalmente por milhares de rapariguinhas adolescentes pelo mundo fora?
Ariadne deu a Teseu o fio que lhe permitia sair do labirinto. Hoje, Ariadne seria o fornecedor de Internet (o fio) , e Teseu e outros (os cibernautas), de acordo com a sua velocidade de conexão, criariam o seu próprio labirinto, cruzando os seus novelos, cortando, atando e fazendo novas ligações (hiperligações), criando uma nova lógica, não-linear. Nesta história havia também um Minotauro, mas desse falaremos mais tarde. Quando no século XVIII apareceram os primeiros jornais, o fio era mais curto, e tinha apenas duas pontas: de um lado uma classe instruída criadora e controladora de conteúdos, do outro uma multidão anónima e sem voz, mas em crescente grau de instrução. Com a massificação dos media, a mole anónima era cada vez maior e tinha muito peso na escolha dos conteúdos, mas continuava muda. Só que, entretanto, a tecnologia permitiu enrolar o cordel, parti-lo e a dar-lhe nós de uma forma como não se esperava, e permitiu pela primeira vez, que fosse possível puxá-lo de qualquer lado. Criou-se aquilo que realmente se chama de World Wide Web, uma teia de dimensão mundial, onde uma notícia que antes seria apenas discutida entre amigos, é comentada com resposta directa e pública ao seu redactor, segundos depois de ter sido publicada.
É isso: “Não pude deixar de reparar naquela notícia na edição online do jornal… Tenho que dar a minha opinião sobre uma coisa que eu acho tão importante e a que tão pouca gente liga…”
Foi mais uma janela que se abriu para aquela rua.
Os pequenos Minotauros
É já um ritual. Faz-se o café, liga-se o computador, vê-se quantas pessoas leram o último post, de onde vieram, que comentários deixaram e o que é que eles próprios escrevem nos seus blogues. Cruzam-se vidas em palavras sublinhadas, pequenas portas para novas perspectivas, novas realidades, personalidades e ideias a nu, e, muitas vezes, surgem segredos privados à mão de quem os quiser colher, nascidos de jardins obscuros que convivem insuspeitos entre nós. As pessoas redefiniram-se, mostram a estranhos o que por vezes escondem a quem lhes está mais próximo. Há um ditado sobre isso, bem mais antigo que a Internet. Mostra-se o coração mas não a cara. E este é um dos pequenos Minotauros: a máscara do anonimato. O que nos defende é o que nos ofende, porque no mercado das ideias há sempre o conceito violento, imposto unilateralmente com intenção destruidora, contra os nossos próprios conceitos, só que, essa mesma máscara, é o pavilhão possível para quem necessita de mostrar a verdade sem sofrer consequências. É o predomínio do avatar em detrimento do Eu real.
Mas o oposto também é um dos pequenos monstros deliciosos que se encontram nas descidas a este labirinto: as confissões e as pequenas rotinas do quotidiano, exploradas até à exaustão em pequenos relatos em formato reality show, como se a valorização do dia a dia pessoal servisse como catarse de uma vida anónima, que ganha dimensão e novo sentido quando apreciada e comentada pelo mundo, pelas portas que se abrem quando se abre essa porta da privacidade. Depois há todas as outras coisas, das quais sobressai principalmente a manutenção da memória: a compilação das receitas da avó, o capítulo na nossa história pessoal vivido de forma particular longe de casa por terras estrangeiras, os álbuns de fotografias comentados dos primeiros anos de vida dos nossos filhos, toda a crueza das nossas vidas exposta, para que para sempre permaneça, para sempre resista, partilhada com todos, para todos, para nós.
Na edição final de 2006 da revista Time, a figura do ano não foi um político, um líder espiritual, uma organização humanitária: fomos todos nós, aqueles que fizeram crescer exponencialmente um fenómeno que existe apenas há dez anos e que tem revolucionado e questionado o papel dos média tradicionais e dos seus conteúdos. Pela primeira vez na história, o espectador não é o elemento passivo nos sistemas de comunicação. Ultrapassou-se o conceito de interactividade para a hiper-interactividade, onde o motor da informação é o público, que para além de consumidor, é agora também criador, com todos os riscos que isso acarreta.

A Biblioteca Infinita
Um blogue não é apenas um pedaço de realidade ou inteligência, é também ficção. É a oportunidade de qualquer um, com a suficiente educação e meios digitais, poder recriar o seu universo, escrever os livros que estão nas prateleiras da Biblioteca Infinita, deixá-los à mercê do olhar de outros. Escrever um blogue é como falar ao ouvido de estranhos, sem nunca podermos saber qual será a sua reacção, se a tiverem. É também uma mão estendida à identificação e à aproximação de indivíduos que de nunca de outra forma se encontrariam, é o ultrapassar das barreiras físicas através da partilha pessoal, intelectual e espiritual. E a cada pedaço que cortamos do nosso cordel para criarmos mais um nó, abrem-se possibilidades inimagináveis. Os volumes amontoam-se por magia nas prateleiras que ladeiam a nossa exploração sem fim, cada um com o seu traço, cada um prestes a ser descoberto. É o fruto e expressão desse mundo em contínua expansão onde a única barreira – e cada vez mais ténue – é o idioma, e as suas sementes são a partilha, o exercício da liberdade e, também, narcisismo. É escolher um pouco de nós e mostrá-lo a quem quiser ver.
Em cada segundo que se demorou a ler este texto foram criados 1.4 blogues, e publicaram-se 1000 posts por minuto. Nunca se leu nem escreveu tanto, o que só nos faz pensar quão longe estamos da revolução provocada por Guttenberg.

A caneca arrefece de vazia, mas ainda vive lá dentro o cheiro do café. Da janela podemos ver a rua, onde, no meio da multidão que prossegue no seu rumo, há já quem nos conheça, há já quem se tenha cruzado com os nossos pensamentos, há quem nos tenha influenciado, sem nunca lhes termos visto a cara ou sentido a vibração da sua voz. Somos figuras de carne e osso anónimas que se assumem famosas no mundo virtual. E a nossa obra não tem um fim, como nos romances.
Voltamos para a frente do ecrã, a nossa janela para as ruas cheias de janelas de todo o mundo, colocamos as mãos em cima do teclado, e começamos.



2º PRÉMIO

Cláudio Martins
(Brasil)

O Blogue Como Espaço De Escrita E Reflexão

A internet, indubitavelmente, revolucionou conceitos em termos de comunicação. Não apenas a comunicação escrita, mas a forma como as distâncias são encaradas de uma maneira geral após o advento desse novo canal de mídia. Em nossos dias, não é raro nos pegarmos pensando em pessoas, distantes milhares de quilômetros, como se estivessem tão próximas quanto alguém na sala ao lado. Muito além dessa possibilidade de comunicação fácil, a rede mundial abre caminho para a livre expressão de idéias e sentimentos. O fato de sítios bem montados retirarem a necessidade de um rosto atrelado à manifestação de uma opinião faz com que sentimentos os mais profundos surjam de forma natural em uma grande quantidade de Blogues nesse mundo virtual que nos envolve.
Talvez esse espaço - que na verdade muda o próprio conceito de espaço - destinado à livre postagem de comentários, seja a materialização do mais puro sentimento democrático. Nele, o filósofo e o iletrado têm o mesmo tamanho, a mesma cor, a mesma riqueza. Ambos estão fora da dimensão do tempo. Catedráticos e operários têm o mesmo direito às considerações que ali existem. Embora ensejando reações diferentes em cada visitante, os pensamentos dos que encontram seu espaço e sua forma de expressão, estão ali, de forma aberta. Mesmo que esse expressar-se seja um mero concordar ou discordar, veladamente postado sob um pseudônimo discreto.
Porém, a expressão escrita, por si só, sem o devido amadurecimento ético e sem o respeito à vida em sociedade, pode representar o rompimento dessa linha tênue que divide o princípio democrático da anarquia sistematizada. Como idéias e conceitos podres desfilando por corredores atapetados. Demonstrações de força verbal protegendo a fraqueza moral. E essa é, sem sombra de dúvida, a mais antiga batalha travada no campo da comunicação, só superada pela batalha do domínio dos povos pela força bruta. E é nesse mundo sem fronteiras físicas e da distância infinita de um espaço que não existe, que reside a força pró-reflexão dos WebLogs, ou Blogues como se tornaram popularmente conhecidos esses pontos de encontro virtuais.
Nos Blogues, idéias são expostas, mas não precisam necessariamente ser aceitas. Conceitos são lançados, mas não têm de ser respeitados. Invariavelmente, é o bom senso o fator determinante e orientador que leva o visitante desse espaço de idéias a se posicionar sobre o tema proposto. O visitante do sítio das opiniões pode, a qualquer tempo, utilizar-se dessa mesma mídia, que é a rede mundial, para verificar e constatar ele mesmo a consistência da idéia que está sendo colocada publicamente. É ele, esse misto de escritor e leitor, de acusador e defensor, de réu e juiz, que toma em suas mãos a decisão de concordar ou não da opinião exposta, ao contrário das grandes manobras de massas que vimos no século XX, em que a emoção causada por bons oradores, aliada à razão desinformada dos ouvintes, orientava o rumo dos acontecimentos. Isso faz com que a sociedade dos dias de hoje seja mais exigente, mais crítica, mais rebelde à rédea.
Como vem acontecendo ao longo dos séculos de socialização do homem, é a grande massa de pessoas, antes ameaçada pela força dos exércitos, hoje manipulada pelos meios de comunicação, que mantém ou destrona líderes e lideranças. Em um raciocínio simples, a formação da opinião está sempre baseada na observação de fatos. Fatos que só se tornam acessíveis pela geração de informação. Informação que pode relatar uma ou várias das diversas faces da mesma realidade. E dessa necessidade básica que tem a realidade de ser interpretada e traduzida em informação para que se torne fato, nota-se a importância dessa mídia-mural, desse quadro de recados gigantesco, para que as diversas faces do que é real possam externar-se abertamente. É pena que esse espaço versátil, econômico e democrático, também possa ser utilizado como meio de manobra dessa grande massa que é a sociedade.
Bom seria se os acontecimentos pudessem bradar ao vento, eles mesmos, todas as suas nuances. E, a partir daí, se gerassem os fatos que, bem observados, subsidiariam as opiniões de cada um. Enquanto essa era não chega, o internauta, que não deixa de ser um cidadão do mundo, utiliza-se de seus meios para compartilhar idéias, sensações e emoções. Para perguntar, responder, xingar, elogiar, desabafar. Compor, decompor e recompor filosofias. Compreender, se distrair, brincar. Buscar em outras mentes visões que justifiquem, ou que o convençam a mudar, sua opinião.
Diz a teoria filosófica que cada indivíduo encerra em si um universo único de conceitos, de dúvidas, de alegrias, de tristezas. O tempo e a tecnologia têm permitido que essas características próprias do mundo de cada um se tornem, talvez não públicas, mas, devidamente filtradas pelo senso ético e moral, publicadas nesse canal de mídia excepcional que são os Blogues. O conhecimento e o reconhecimento dessas identidades, desses universos, faz com que cada internauta tenha, ao alcance de suas mãos, um sem-número de pareceres. Pareceres estes com opiniões, com emoções, com concordâncias e discordâncias. Com milhares de perguntas que questionam o mesmo assunto e dezenas de milhares de respostas diferentes, cada uma com o toque da personalidade de outro internauta. Dele e de seu universo.
Não importa o nome que se dê a esse advento. Não importa se o meio de veiculação se chama Blogue, WebLog ou ponto de encontro virtual. Trata-se de uma das mais fantásticas experiências antropológicas de que a humanidade já teve notícia: relacionamento, informação, crítica e autocrítica. Todos acontecendo ao mesmo tempo. Todos tendo como palco o mesmo lugar.



3º PRÉMIO

Alberto Augusto Miranda
(Lisboa)

Blogues: minifúndios isolatrónicos

Nos últimos anos assistiu-se a uma nova espécie de vida: a vida electrónica ou a cybervida. É uma adição semelhante a outras drogas, como o tabaco ou a televisão. Por questões que se dividem entre o know-how informático e a míngua financeira, o blogue, porque gratuito e de fácil aprendizagem funcional, monarquizou a tipologia de websites dada a quantidade quase infinita dos seus utentes e detentores. Há na blogosfera nacional, cibernautas com mais de 8 blogues, numa admirável disponibilidade de tempo. A ausência de know-how impediu mesmo alguns habitantes da Internet de usarem as páginas gratuitas que alguns servidores oferecem. Alguns, mais possidentes, entregaram a profissionais o webdesign e a manutenção das páginas, comprando domínios e títulos de páginas. Os webmasters recém-saídos de formações tecnológicas, não tiveram, nos seus cursos, nenhuma área que compaginasse culturalmente as novas possibilidades electrónicas, o que, em cibernáutico trânsito, representa uma décalage, às vezes funda, entre tecnologia e ciência, ou entre tecnologia e humanidades.
A blogosfera tem o mesmo princípio de todas as esferas: a ausência de centro ou, por simpatia, a sua multiplicação. Um centro, porém, reifica os milhões de blogues: o ego. Os contadores de blogues, na sua anotação permanente de actualizações e novas páginas, permitem o estabelecimento de um egoscópio que, na sua imensíssima maioria, é profundamente desinteressante e cuja neurose se reflecte em linkagens de troca publicitária e no exercício compulsivo do autogoogling, da verificação de audiências no Technorati ou nos milhões de sitemeters disponíveis. Aquilo que, no início, configurava uma essência diarística, onde o eu se despojava sem filtragens, assumiu a inevitável alteridade do ego: o eu, em presença pública, ainda que virtual, veste a roupagem do ego, descaracterizando assim a verdade diarística, ou seja: aquilo que apenas se conta ao papel (ao écran?), num confessionário assente na inviolabilidade do dito. O blogue, nesse sentido, exerce cruelmente o corte da intimidade e apela a transferts complexos cuja patologia em pouco tempo havemos de sofrer naquilo que, suponho, ficará para a história como doenças da virtualidade ou doenças tecnológicas.
Este um dos primeiros paradoxos dos blogues: as páginas pessoais são egóticas e ausentes do eu à volta de cuja particularidade seria possível universalizar o foro do humano mesmo numa época que já corre sob o epíteto do pós-humano. A mais valia do eu desaparece em confronto com o social, com o público, e, particularmente nos blogues portugueses, essa nota é hipersensível e diz/representa toda uma estrutura psicológica ainda sob o efeito de uma catarse por fazer.
Nos blogues que entretanto se disponibilizaram para uma acção sócio-política e de influência, a exemplo de outras publicações periódicas, raramente são evitadas a repetição e a redundância. Nos blogues que permitem comentários, onde o anonimato impera, damos também conta de um país border-line, tal a neurose-psicose que atravessa a blogosfera nesses domínios. Também nos blogues ditos culturais impressiona a tendência de replicar o mercado. Os assuntos e os autores mais constantemente “postados” constituem, em mais de 96% dos casos, uma amplificação daquilo que o mercado fez encaixar nos meios audiovisuais e jornalísticos em regime de simultaneidade. Em ambos os casos as janelas de pop-up ou a inserção de publicidade privada ou institucional contrariam a pessoalidade e independência que os detentores destes minifúndios alardeiam.
No decurso das investidas blogosféricas que já contabilizam anos, a influência directa, por rapidez de emissão e ansiedade na recepção, coloca o suporte blogue numa área mais apetecível para os interactuantes já formatados pelas fast-news entregues ao domicílio pelos media relinchantes sem direito a uma digestão intelectiva suficiente para a apreensão dos mundos replicados, falsamente ao alcance do interactor pela via do teclado. Mesmo os blogues de produção grupal, servindo de prolongamento de interfaces, raramente suplantam o recorte modal, isto é: de interface em interface, reproduzem-se interfaces, esquecendo o cerne: as faces. Neste movimentos noticieiros, aquilo que mais movimenta a libido dos navegantes, não é a notícia, mas o comentário que sobre ela os autores dos blogues disponibilizam, procurando-se uma espécie de cartilha para comungar uma opinião. Embora de alcance sócio-extenso reduzido a uma comunidade de adicionados comentaristas, o blogue, à semelhança de outros suportes, procura a captatio benevolentiae, quer através de uma postura bicopodal quer através da emulação sensacionalista.
A estrutura bloguística desandou, entretanto, de certo standard que aparentemente era o seu alimento. Muitos autores decidiram, através das novas possibilidades técnicas, compartilhar o seu pensamento e criação apenas com um diminuto número de pessoas próximas, às vezes dois ou três internautas, desaparecendo assim das buscas públicas que eram o pão-nosso dos blogueiros primiciais. Será nestes últimos que poderemos encontrar alguma substância reflexiva e um espaço de escrita sem constrangimentos. Ao evadirem-se das audiências, das pulsões de reconhecimento e ressentimento, tais autores estão de novo na única dimensão que permite a criação: a liberdade. Sem terem espreitantes por cima do ombro – mesmo virtuais ou apenas supostos pelos autores – os criadores ficam finalmente re-entregues à dimensão solitária inerente ao processo criativo. Deixam de querer “comunicar”, passam ao cultivo da arte do pensamento. Este processo torna-se desesperante para os profissionais dos comentários que, munidos de uma neura egolátrica, deixam de se ver “representados” na “representação” do(s) mundo(s).
Os autores mais radicais (ínfimos em quantidade) escrevem, com protecção de tela para evitar o copy-paste, e, indicando nomes verídicos ou não, estabelecem o suporte blog como espaço de soltura: deixam sair em verdade, sem qualquer tabu ou condicionamento, todas as verdades do corpo e existência, da precariedade da subvivência aos amores de metro e outras ocasiões, concitando para o seu espaço electrónico qualquer coisa como um evacuário sem pretensões de inundar os leitores com atitudes de púlpito. Chamo-lhes radicais porque da mesma maneira que aparecem na blogosfera, propositadamente ausentes de referências pessoais, assim incendeiam o seu minifúndio, desaparecendo sem contacto, participando daquilo que em termos de estética talvez tenha sido, em Portugal, iniciado por Santa Rita Pintor: a estética da dissolução.
Seria de esperar que em tais minifúndios se cultivasse fundamentalmente a emissão, numa sociedade em que a recepção domina. O suporte electrónico seria uma possibilidade enorme para esse efeito. A realidade porém, quer em números quer sobretudo em qualidade, desmente radicalmente essa hipótese.
Com que barroco se pode fazer luz na floresta? Com que classicismo se pode instalar uma clareira no bosque? Com que vanguarda se mostra o percurso rumo ao farol? Como se poderá sair do romantismo?
A rara vida à luz do sol vai notando muitas ausências. O instrumento que poderá servir para múltiplas aberturas é também aquele que nos fecha. Se o isolamento – de diversa índole – pode ser combatido com a cybervida, é igualmente verdade que a adição e a neurose conduzem a outro isolamento, por muito que as cybercomunidades corram (virtualmente, claro) em nosso auxílio. Isolamento vigiado sem espaço para gozar a solidão.



PRÉMIO JUVENTUDE

Sara Raquel Ferreira Costa
(Cucujães)

O blogue como espaço de escrita e reflexão

“O viajante ainda é aquele que mais importa numa viagem”
André Suarés


A propagação das novas formas de media e mais particularmente da Internet veio revolucionar alguns dos métodos tradicionais de pesquisa, aprendizagem e consequente desenvolvimento intelectual do indivíduo e da sociedade. A partir do formato cibernético que encurta o tempo e o espaço, integrando pelo menos metade do globo numa imensa Aldeia Global, foram-se redescobrindo novas configurações no que toca à ramificação do universo do particular no seu relacionamento com o global. É claro, que, em qualquer grande plataforma de difusão de dados, o espírito crítico do utilizador tem que estar tão presente como em qualquer outro formato de media, pois é o utilizador que manipula o veículo da informação e não o contrário. A partir daqui há um desenvolvimento integrado entre aquele que é o âmago individual e a sua manifestação exterior e consequentes repercussões tanto de teor intrínseco à psique do indivíduo como de teor social. Isto é, o indivíduo possui determinadas informações que, uma vez em contacto com outras, sofrerão alterações e estas, uma vez alteradas, serão novamente postas a circular numa grande plataforma de informação, modificando constantemente o conhecimento e renovando-o. Mais do que uma renovação permanente do conhecimento, o facto da informação chegar ao mesmo tempo a qualquer espaço, diminui em grande escala a disseminação das disparidades culturais.
É dentro deste círculo de transformação e progressão do conhecimento que se pode situar perfeitamente o blogue como espaço de escrita e reflexão. O blogue é de certa maneira, um formato simplificado do antigo sitio. Possivelmente porque o blogue possui uma finalidade menos facetada e mais objectiva: a divulgação de ideias através da palavra escrita. Isto porque o utilizador que queira construir um sitio cibernético tradicional tem que levar algum tempo a pesquisar e a familiarizar-se com determinadas ferramentas que passavam por processos por vezes tão complicados como a procura de um alojador, conhecimentos da utilização de programas de construção de layout, por vezes conhecimentos de linguagens puras como html, css, etc; e até conhecimentos de design gráfico.
O blogue é por definição um formato facilitado de manipulação, pensado especificamente para o utilizador comum que pretende divulgar os seus textos através de um processo de actualização de dados de uma forma elementar. E esta é também uma característica muito particular do blogue: a actualização permanente, a tal dinâmica que irá ser fase fundamental da propagação e transformação das ideias. Enquanto o tradicional sítio tem por finalidade ser uma base de dados estabelecida à volta de uma determinada temática, assunto ou produto, maioritariamente de cariz impessoal, o blogue possui uma estrutura de divulgação diferente.
O blogue é, de uma maneira geral, um albergue virtual de cariz pessoal e até intimista onde o utilizador comum pode publicar com facilidade de técnica e de acesso tudo o que pretender divulgar através da palavra escrita. E é aqui que circula um conceito fundamental da nossa cogitação. A imposição da Internet como ferramenta essencial da Nova Era estimula o contacto do utilizador com a leitura e com a escrita. E a palavra, por sua vez, quando concretizada na sua densidade visual ostenta toda a sua importância. Para além disso, o pensamento não é dissociável da linguagem: regem-se pelos mesmos alimentos, puxam-se um em direcção ao outro. Assim assistimos a uma progressiva capacidade de reflexão e de expressão entre os bloguistas que, no fundo, em muitos dos casos não se diferenciam do que tradicionalmente designamos por escritor, que se direcciona, na sua maioria, para um certo género ligado à crónica.
Uma observação de cariz social que considero particularmente interessante nesta possibilidade da publicação livre no espaço virtual, prende-se com um contexto social particular ao nosso país. O período salazarista foi um período particularmente anestesiante na divulgação das ideias no espaço considerado público. A troca livre de ideias permaneceu durante muito tempo fechada produzindo repercussões até aos dias de hoje. A propagação da arte, da crítica, das ideias políticas emergentes de vozes anónimas, não guiadas por um prestígio mediático que limita o espaço público de opinião, encontra-se cada vez mais visível na extensão destinada à blogosfera. Aos poucos, este será um veículo de informação sistematizado numa plataforma virtual que poderá vir a causar repercussões sociais reais e a transformar o espaço público, remodelando os objectos de discussão através da sua absorção e consequente manifestação do indivíduo para o resultado de uma alteração patente colmatando desta forma falhas sociais de uma mentalidade colectiva em recuperação de um estigma. Quando a obra artística adquire a sua autonomia é sinal de que a dinâmica cultural actua e que o conhecimento avança. A arte, a filosofia, a política e até os avanços científicos podem beneficiar muito da permuta abrangente do pensamento.
Assim, pela facilidade de manipulação, pela liberdade de expressão, pela imposição da palavra escrita e consequentemente pela ginástica do pensamento na emissão da opinião do indivíduo, o blogue é um espaço de escrita, um espaço da valorização da língua e, claro, um espaço de reflexão privilegiado.
Por mais viagens que o futuro proporcione ao Homem, com todas as metamorfoses de formato durante o processo de viagem, o viajante será sempre, de facto, o principal elemento de evolução.


MENÇÕES HONROSAS

José Manuel Pereira Soares
(Amora)


A vida depois do blogue


- Isso é uma enorme bloguerdade! - Alguém me dirá um dia, usando uma palavra nova de conceito antigo que certamente terá um significado tão universal como “verdade livre” ou “liberdade verdadeira”. Algo puro e genuíno, seja espontâneo ou pensado, mas sem tabus ou preconceitos, completamente alheio a pressões ou opressões, solto de mordaças invisíveis, sem que o emissor de opinião incomodativa se veja no espelho com uma caçadeira apontada à mais honesta das suas têmporas.
Bem-vindos sejam os blogues à vida do pequeno mundo de Portugal, este imenso deserto salpicado de sumptuosos oásis protegidos por redomas aparentemente indestrutíveis. Porventura, será a força dos blogues, alimentada pela eterna crença no triunfo da verdade sobre a mentira, da justiça sobre a desigualdade e da liberdade plena sobre a opressão mascarada, será a perseverança na defesa destes escudos da condição humana que minará os alicerces das fachadas erguidas a saque em nome de um interesse aclamado público, mas que tem apenas como objectivo proteger o poder dos grandes bolsos privados.
Entra aqui a comunicação social, antes a grande condutora da liberdade de expressão individual. Porém, a comunicação social não é totalmente livre. A verdade não é totalmente revelada, é filtrada e imposta através da exploração exaustiva dos pontos de vista julgados mais convenientes. No que à liberdade de expressão diz respeito, é notório que o método assente na tortura e na perseguição opressiva do tempo político salazarista foi reformado. A mordaça é agora invisível, a perseguição não tem rosto, qualquer um pode falar, criticar, opinar, comentar, mas sem que a sua voz seja levada a sério. E quando ela se faz ouvir, é rapidamente abafada por algum problema técnico ou habilmente silenciada pelos controladores de conteúdo dos programas ou espaços de opinião destinados à massificação do pensamento único e convergente com o sentido que alguém quis dar à análise do tema em discussão. Ou seja: há liberdade de opinião, mas apenas se esta for favorável ao sentido do programa. Se não for, corta. A censura prévia deu lugar à censura póstuma. A opinião incómoda pode não ser impedida, mas é passível de castigo. Então a palavra é cortada, a voz apagada. Bendito seja o inventor dos blogues!
O poder económico está representado no topo de todas as áreas de influência, do poder legislativo ao judicial, do executivo à comunicação social, essa arma poderosa que tão depressa determina perfis e escolhe figuras como logo as abate do seu poleiro. Este domínio dos grandes bolsos é consequência do assalto burguês ao poder em Abril de 1974, camuflado de revolução popular e militar, que ao longo dos anos transformou o totalitarismo de Estado em totalitarismo privado. A instauração efectiva da liberdade de expressão, da verdade informativa e da divulgação total de correntes de pensamento não foi fruto da revolução burguesa de Abril de 1974.
O surgimento dos blogues é a verdadeira revolução, a abolição total de barreiras, a máxima afirmação da expressão individual. Para os donos do poder, os blogues são um indesejável efeito secundário da globalização. Será esse efeito capaz de ferir de morte a manipulação da verdade das coisas? A resposta dependerá da dimensão da fé humana, da perseverança dos humanos na defesa da sua dignidade. Acima de tudo, da sua capacidade de união em torno destes valores.
Ao contrário do 25 de Abril de 1974, a blogosfera não se esconde sob qualquer tipo de camuflagem. O acto de blogar é um acto verdadeiramente livre, num espaço também ele livre onde se pode debater toda a espécie de assuntos, da política ao desporto, dos tabus da sociedade aos mais banais temas do quotidiano. É a grande oportunidade de se manifestar a existência, de revelar ao mundo os sonhos e pesadelos, as ideias, vontades, opiniões, memórias, um conto, um poema, um comentário, um livro, uma declaração de amor ou ódio, de amizade ou repulsa, de solidariedade ou confrontação, até de apenas escrever: eu estou aqui!
Os blogues alteraram o conteúdo e a forma da comunicação social. Obrigaram os seus dirigentes a enveredar pela imparcialidade, situando-os numa posição tão incómoda como perigosa: muitas vezes suportados e até dependentes dos grandes grupos de pressão e de opressão, deparam-se agora com o controlo exercido pelo crescendo da consciência de cidadania provocado pela expansão da blogosfera, que funciona simultaneamente como controlo e garantia da autenticidade da informação.
O espaço de debate saiu do âmbito exclusivo das assembleias, das universidades, dos colóquios e seminários especializados, está agora ao alcance de quase todos. Para bem da Democracia, os blogues permitem saber quais são os pensamentos dos portugueses, os seus medos, as suas vontades. E, se o bonito significado dessa velha palavra grega for cumprido, se o poder estiver efectivamente no povo, este terá uma intervenção mais activa nas decisões do país e do mundo, não se resignando nem resumindo apenas a escolher, através do voto, a opção que considera menos má para o representar.
Vivemos numa época histórica em que cada vez há menos espaço para a valorização do factor humano. É um tempo difícil em que o mundo humano gira em volta do dinheiro em vez de girar em volta de si próprio, da própria Humanidade. Aqui o blogue surge como um agente libertador. Um local de confissões, de desabafos, substituindo um dos maiores símbolos da liberdade, o grito. Quem nunca sentiu a necessidade de gritar bem alto um sentimento de revolta? E como sabe bem escrever um grito!
Seja pela aparente solidão dos dedos que teclam furiosamente como se em cada gesto premissem gatilhos em direcção ao desespero que os consome, seja pela alegria de teclar o seu amor ao mundo como quem toca uma delicada melodia no mais belo piano, o blogue é o meio perfeito para a afirmação e subsequente globalização de cada existência individual.
Mais do que convidar à simples reflexão, o blogue inspira a participação activa no debate sobre tudo o que nos rodeia. Um espaço ideal para divulgar, conhecer e debater em consciência, sem medo de perseguições nem represálias, onde largamos os disfarces impostos pela acção da nossa estranha mentalidade colectiva e impomos a inigualável beleza presente em qualquer momento de criatividade, em qualquer movimento de cidadania, em qualquer grito.
Vamos blogar?



Francisca Duarte Cruz
(Portimão)


O meu Blogue
Comparsa virtual


Aderi, pois claro! Não estamos nós, numa era, com pendor tecnológico? Aderi ao computador, não como instrumento de trabalho propriamente dito, mas como terapia anti-stress. Eu explico. O dito veio substituir, em parte, a feitura dos tricots, dos crochets e daqueles bolos ou cozinhados muito complicados. Estes últimos fazem mal à saúde e à bolsa, e, as rendas e os tricots, por muito lindos que sejam, têm pouco interesse para as novas gerações. E pronto!... Agora percebi. Sou transparente. Já denunciei que sou Mulher. É o que tem a escrita. Denuncia-nos. Talvez por isso seja tão temida. E se calhar, fico a perder, porque isto, diz-se que os direitos são iguais mas esquecem-se das injustificadas preferências. Por outro lado, o computador, este meu Virtual Comparsa satisfaz-me o desejo de saber mais, de crescer, de matar a curiosidade gratuita, quiçá bisbilhotice e, ainda me aguça o sentido crítico, não o deixando adormecer. Às vezes, vejo cada blogue que... me apetece comentar. E comento, com a justiça que me invade no momento.
Ah, é verdade, sou contra anglicismos, galicismos, germanismos e outros “ismos” negativos; mas será que blogue assim aportuguesado, já consta do novo dicionário português para significar “blog”? A Net não me dá resposta a esta dúvida. Tenho de ir aos livros. Ainda bem! Há quem acuse a Net destronar os livros, mas não é totalmente verdade, como se vê. Já vi que estou a desviar-me da linha que pretendia com as minhas reflexões. Adiante...
O tema proposto – O blogue como espaço de escrita e reflexão – é, assaz curioso. Curioso porque é um duplo desafio. É um desafio para a juventude, um motivador convite à escrita, suscitando o interesse desse grupo etário, muitas vezes avesso à comunicação escrita convencional, não sei, se por ser fruto dos tempos, em que impera a oralidade, o monossilabismo e uma escrita eivada de siglas, abreviaturas e ideogramas quase ininteligíveis ou, apenas por deficiências educativas. Enfim!... É tempo de amenizar este trabalho de “cabeças brancas” que constitui o grosso dos militantes dos concursos literários!...
Por outro lado, é também um convite às gerações que ultrapassaram a juventude, constituindo uma forma positiva de as fazer interessar ou debruçar sobre essas lides “internéticas” que querem avassalar o mundo da comunicação, com certo sucesso e utilidade, diga-se em abono da verdade, e para as quais ainda há muito quem olhe com desconfiança.
O patrono do presente concurso, o insigne Homem de Letras Hernâni Cidade, esteve, ao que se sabe, bem atento ao condicionalismo histórico, que se versa na literatura e, foi dela, um Crítico excelente, que alicerçava as suas opiniões, na raiz da história cultural. Deu um valiosíssimo contributo para uma boa literatura, sem excrescências superlativantes, que, apenas prejudicam a clarividência da expressão.
Estou em crer, portanto, que, se fosse vivo, subscreveria, de bom grado, o tema proposto.
O concurso em si, por ser um concurso de letras que atribui prémios aos ditos melhores concorrentes, parece ter raízes profundas nos antigos Jogos Florais, realizados na longínqua Idade Média, no Languedoc, para galardoar e incentivar os melhores trovadores, que, em troca das suas produções, recebiam favores e flores, tais como a rosa silvestre, a violeta ou o amaranto em ouro ou prata (os mais valiosos metais da época).
Essa tradição, embora com outros prémios, não se perdeu de todo e, ao longo dos séculos foi deixando o seu rasto, em França, em língua francesa e, em seguida, esses concursos literários foram-se dispersando pela Europa.
Em Portugal e, muito embora, avultem nomes grados e bem conhecidos do Mundo, na Poesia Portuguesa, os concursos que, potencialmente, se fariam não têm grande expressão.
Contudo, em pleno período salazarista, a Emissora Nacional instituiu os Jogos Florais da Primavera, buscando mesmo a raiz, na Antiguidade Clássica, quando eles se realizavam em honra da deusa Flora.
Tiveram sucesso esses Jogos florais e então, outras instituições viradas para as Letras, deram-lhes seguimento; os géneros literários a concurso diversificaram-se, incluindo mesmo a prosa. Daí até hoje e, se bem que, por vezes, haja períodos menos fervilhantes, tem surgido um movimento multiplicativo de Jogos Florais e Concursos Literários, com todas as implicações negativas, no que concerne à qualidade, em face da quantidade.
Particularmente o Brasil, grande cultor da quadra, dita trova, enxameia a Net com concursos e blogues personalizados, uns com qualidade, outros nem tanto.
Estou a ser um tanto contundente com as minhas reflexões mas, como a este pseudo-blogue não têm acesso comentaristas loucos e abusivos, sinto-me à vontade. Sim, porque num blogue a sério, que se abra a todos os comentários, lê-se cada monstruosidade...
Os prémios
Deixei este item que titulei e tudo, para finalizar o meu blogue, porque ele dava um tratado. Há quem escreva para concursos literários e se autoavalie, pelo número de prémios recebidos e, proclame e amplie, por ingenuidade ou por estupidez, esse número. Há quem avalie os companheiros destas lides, usando o mesmo critério. Há quem, faça segredo da existência de certos concursos por temer a concorrência. Há quem olhe como intruso, alguém que é premiado, e é desconhecido pela elite que milita nisto, há décadas. Há quem exorbite em todos os sentidos. Há simpatias e inimizades ganhas através de Jogos Florais. Há concursos e prémios que foram criados, propositadamente para A, B ou C. Mas, para dar imagem de justiça e legalidade, foram abertos a todos os concorrentes, que se calam porque o júri é soberano e decisões de júri não se contestam.
Há convívios (poucos!...) ditos tertúlias literárias, onde o clima é tal, que ninguém se atreve a pôr o dedo nos consagrados, ainda que, às vezes, o merecessem e, os pequeno-premiados, são, no grupo, pouco ou nada considerados. Ninguém ensina nada a ninguém. Não se evolui! Quase se precisa de apadrinhamento para singrar ou para publicar. Estão estagnadas as águas das letras, num jeito tão falso que cheira mal, ainda que lhe deitem perfumes.
Esta panorâmica não é só a dos concursos literários, mas a das letras em geral. Há livros publicados com a bênção das Câmaras ou de outros quejandos que ninguém lê, nem gosta de ler, mesmo que seja fanático da leitura. Não se fomenta ou fomenta-se pouco o gosto pelos livros e pela leitura. Há um marasmo neste campo. Tenho pena e medo do que vai acontecendo no campo intelectual. E da decadência que isto nos pode acarretar.
E, apesar de tudo, eu vou escrevendo, vou concorrendo sem me importar muito com essas arbitrariedades, porque gosto de escrever, de pensar, de transmitir o que penso, de alinhar ideias, de ser clara ao partilhá-las. Escrever é para mim tão natural como pensar ou respirar. Não sei passar sem escrever. Daí a minha paixão pelo meu Comparsa Virtual.
Ah! E não me importo que façam comentários ao meu blogue. Até gosto! Desde que não sejam grosseiros, podem dizer mal ou bem.

COMENTÁRIOS
jcosta@hotmail.com
Ès uma parva! Concorrer se dá maçaroca, tem segredos. E tu não os sabes. Escreve mas não concorras, estás a dar-lhes batatinhas.
Mbarbinha@26845.com
Acho bem o que dizes mas isto não se pode dizer as verdades. Há quem dê os prémios só a quem quer. E então se são dinheirinho...



Suzana Mafra
(Brasil)


Riscado

Criei

um

blogue

e me sinto uma imbecil

a impressão

(não impressa em papel)

de que ninguém me lê

aquele blogue na prateleira

dos esquecidos

uma amiga, compadecida:

visite outros blogues e deixe um recado

deixei riscado:

o meu tempo se esgotou